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03
Jun15

Gallaecia:- Soajo/Arcos de Valdevez

nona

 

 

 

 

NO RESCALDO DO XXIII ENCONTRO DE FOTÓGRAFOS E BLOGUES

(ALTO MINHO - TERRAS DO VEZ)

 

- SOAJO - A ARTE E O ENGENHO DE GUARDAR O MILHO -

 

O Soajo, uma das mais típicas aldeias portuguesas, pertence ao concelho de Arcos de Valdevez e situa-se numa das vertentes da serra da Peneda, inserida no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Diz Joel Cleto: “As vizinhas povoações do Soajo (Arcos de Valdevez) e Lindoso (Ponte da Barca) albergam dois dos mais famosos conjuntos de espigueiros existentes em Portugal. Contudo, embora sejam símbolos emblemáticos e testemunhos privilegiados do forte impacto e da verdadeira revolução agrícola que o milho operou nestas terras atlânticas desde que, no século XVI, aqui foi introduzido, a verdade porém é que, entre nós, a origem dos espigueiros radica na mais remota Antiguidade.

 

1º QUADRO - Estrutura em que assenta o espigueiro

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso,

Tudo porque... aqui há rato!

 

2º QUADRO -  A eira assente no penedo

 

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso,

Não é o maior conjunto de espigueiros do país. Mas é seguramente o mais imponente. Construídos inteiramente em pedra, os 24 espigueiros do Soajo encontram-se “reunidos a esmo no cimo do penedo” - um longo afloramento granítico que além de acolher estas tradicionais manifestações da arquitetura do mundo rural, destinadas à armazenagem e secagem do milho, reserva também um vasto e fundamental espaço central: a eira comum.

 

3º QUADRO - A monumentalidade e a proteção, fois fatores essenciais

 

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso,

Se a grande concentração de espigueiros é fator fundamental da imponência deste conjunto, não é menos verdade que muita da sua monumentalidade resulta do facto daquele afloramento ser bastante alto, convertendo-se numa autêntica “defesa natural” que salvaguarda aquelas construções dos animais, particularmente das galinhas, e dos incêndios.

 

4º QUADRO -  Função de armazenagem e secagem, por via da ventilação

 

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso,

Mas, foi um outro perigo, uma outra praga, que terá feito surgir entre nós os “espigueiros”. Não possuíam, contudo, então esta designação. Até porque as “espigas” do milho maís, que estão na origem da sua denominação, só foram introduzidas na região no século XVI, após a descoberta das Américas, de onde é originário aquele cereal.

Não sabemos exatamente quando surgiram os espigueiros, mas é indiscutível que, muito semelhantes aos que hoje conhecemos, já existiam na Idade Média como comprovam os desenhos de várias iluminuras dessa época ou referências documentais em textos datados de 1032, 1057 ou 1075, servindo então para guardar as espigas do milho-alvo e cereal de pragana por malhar. Indiscutível parece ser também que na origem destes “celleiros” ou “celarios” esteve, efetivamente, uma enorme e permanente praga da região: os ratos. Com efeito, para lá da sua clara função de armazenagem e secagem ventilada,

 

5º QUADRO - A utilização das nós dos moinhos para obstaculizar a entrada dos ratos

 

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso,

é evidente nas suas características e no engenho construtivo a preocupação que estas estruturas denotavam em resguardar o cereal daqueles roedores. Uma das estratégias mais habituais, e perfeitamente visível no Soajo, é a colocação de grandes pedras circulares entre os pés e o restante corpo dos espigueiros, constituindo um obstáculo intransponível para os ratos que possam ter subido na vertical ao longo das pernas da construção. Grande parte dos espigueiros deste conjunto utilizou, para esse fim, velhas mós de moinhos.

 

6º QUADRO - A antiguidade destas estruturas, a  proteção, a conservação do milho e a proteção da cruz

 

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso,

A grande abundância de ratos no noroeste da Península Ibérica, já mencionada por Estrabão no início da colonização romana – e que levou mesmo, na Cantábria, a que as autoridades romanas premiassem quem os matasse – só começou a ser atenuada na Baixa Idade Média com a vulgarização do gato doméstico.

Mas, nem só os ratos explicam a génese destas típicas estruturas de armazenagem. Os fatores climáticos, nomeadamente a forte humidade do noroeste peninsular, foram também fundamentais no aparecimento destas construções que, embora fechadas e bem resguardadas dos agentes climáticos adversos, permitiam uma boa secagem e, em simultâneo, o armazenamento do milho em boas condições, que passavam, entre outras, por uma ventilação adequada.

O facto do milho em grão, guardado em caixa, não se conservar em média mais do que um ano, enquanto na espiga pode conservar-se durante anos, terá contribuído, fundamentalmente após a introdução do milho maís, para algumas mudanças operadas nos espigueiros, de que são exemplo um crescimento das suas dimensões e o aparecimento de características arquitetónicas mais duradouras que, como aconteceu no Soajo, resultou mesmo na sua total petrificação. Paulatinamente, e de forma mais notória a partir do século XVIII, estes espigueiros acabaram por fazer desaparecer – já na segunda metade do século XX – os canastros ou caniços, “celeiros” mais primitivos e construídos na sua totalidade com elementos vegetais. Os últimos canastros do Soajo, que se implantavam ao lado dos espigueiros, feitos de verga de carvalheiras, eram ainda visíveis há cerca 20 anos.”

E arremata Joel Cleto: “Mas, se é verdade que os 24 espigueiros do Soajo acabam por constituir uma das maiores concentrações de espigueiros exclusivamente em pedra existentes no país, outros conjuntos há que, pela abundância e diversidade de tipologias que albergam, merecem também uma referência. É o caso, a uma dezena de quilómetros de distância do Soajo, do agrupamento de espigueiros do Lindoso. São 64, reunidos num curto espaço, embora não tão monumental quanto o do Soajo. Constituindo, provavelmente, o maior conjunto do país, os espigueiros do Lindoso [que vimos no post anterior] dividem-se em diversos tipos, desde os que são exclusivamente em pedra a outros que combinam de diversos modos diferentes materiais, nomeadamente o granito, a madeira, a lousa e o tijolo. Tal como no Soajo, estes espigueiros concentram-se em torno de uma única e retangular eira, testemunhando assim a importância do trabalho coletivo que tão intrinsecamente caracterizou estas comunidades de montanha durante séculos”.

 

7º QUADRO - A Igreja Matriz de São Martinho do Soajo

 

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso,

Ao caminharmos pelas ruas pavimentadas, com lajes de granito, damo-nos conta das casas típicas construídas no mesmo material. São de apreciar a Casa da Câmara, a Casa do Enes, a Igreja Paroquial de São Martinho do Soajo. o moinho em ruínas

 

8º QUADRO - O típico pelourinho

 

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso, e o pelourinho.

 

As inúmeras casas de turismo aqui existentes nasceram da recuperação de edifícios antigos. São espaços muito bem restaurados que mantiveram a traça tradicional e que proporcionam estadias confortáveis em pleno Parque da Peneda-Gerês".

Para finalizar, gostaríamos que os nossos(as) leitores(as) consultassem o sítio da internet - http://www.altominho.pt/gca/?id=693 - que nos fala da Lenda do Juiz do Soajo. É digno de ser lido para que certos valores de antanho sejam seguidos por certos «dignatários» que, infelizmente, hoje nos governam.

 

9º QUADRO - Paisagem 1

 

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso,

Enquanto do Soajo nos dirigíamos para o Mezio, deixamos aqui dois quadors de paisagem que, do autoocarro, fomos captando.

 

10º QUADRO - Paisagem 2

 

2015 - XXIII Passeio Lumbudus (Celanova, Lindoso,

A última delas com um restaurante [ou instalações para a realização de eventos] no cimo do monte.

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