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15
Out25

O Cruzeiro de Hío - O Cristo da Luz (A descida da Cruz) - Cangas do Morrazo | Galiza

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O CRUZEIRO DE HÍO

O CRISTO DA LUZ 

(A DESCIDA DE JESUS DA CRUZ)

CANGAS DO MORRAZO | GALIZA

- 09.outubro.2025 -

01.- 2025.- Cruzeiro de Hío (11)

Tínhamos combinado com o amigo Pablo Serrano que, de 9 a 10 de outubro do corrente mês, iríamos percorrer alguns pontos do território da península de Morrazo, na Galiza. Acompanhava-nos o nosso sempre companheiro de caminhadas, Florens.

Ficou decidido que, logo ao chegarmos, dirigíamo-nos até Hío, para ver o seu muito famoso cruzeiro, em frente à igreja de Santo André, do século XII; depois, até Donón, para fazermos uma caminhada pelos três faróis do Cabo Home; almoçávamos num restaurante de Donón, apreciando o peixe e o marisco, uma vez que estamos na época do festival do marisco; e assentávamos arraias na hospedaria do Mosteiro de São João de Poio. No Mosteiro de São João de Poio víamos a  sua Igreja e o Mosteiro; daqui, após uma pequena sesta, e completando o dia, no fim da tarde, dávamos uma passeio, deslocando-nos até Combarro para ver os seus tão falados cruzeiros e os seus espigueiros (hórreos).

Isto, para o nosso primeiro dia. No segundo, íamos até à Ilha Arousa, de manhã e, à tarde, deslocávamo-nos a Cambados, onde almoçaríamos e, depois, fazíamos uma pequena visita à capital do vinho Alvarinho.

O programa foi todo cumprido. Infelizmente, por questões de saúde, Pablo não nos pode acompanhar. Fomos apenas os dois – nós e Florens.

Como se disse, a nossa primeira pausa, vindos de Vila Real e Chaves, foi em Hío para ver e apreciar o seu maravilhoso cruzeiro.

Tudo quanto aqui se vai escrever sobre este tema do cruzeiro, fomos bebê-lo ao texto - Cruceiro de Hío, de Fernando Graña Monroy.

Falemos, pois, sobre este tema, se bem que também se aconselha a leitura dos seguintes artigos e respetivos autores, entre outros:

Para uma melhor visualização da base e da cruz deste cruzeiro, ver:

Santo André de Hío é uma das paróquias que compõem o concelho de Cangas; pertence ao arciprestado de O Morrazo e à diocese de Santiago. É limitada a norte e a oeste pelo Oceano Atlântico, a sul pela ria de Vigo e a leste pelas paróquias de Aldán e Darbo, ambas pertencentes ao concelho de Cangas.

É uma freguesia totalmente costeira, com inúmeras praias de areia, como Liméns, Barra, Areabrava, entre outras.

A Igreja oferece uma bela vista panorâmica do estuário do Aldán.

02.- 2025.- Cruzeiro de Hío (47)

Nas suas imediações, uma escultura representando a gaita de foles.

03.- 2025.- Cruzeiro de Hío (3)

O famoso "Cruceiro de Hío", obra do século XIX, destaca-se no seu átrio,

04.-. 2025.- Cruzeiro de Hío (48)

defronte para a Igreja de Santo André, do século XII.

05.- 2025.- Cruzeiro de Hío (7)

Também próximo da igreja encontra-se a Residência Paroquial, um impressionante edifício palaciano que conserva interessantes anexos, incluindo o antigo pombal ou lavadouro.

Com a ajuda o Google Maps, localizemos, em Cangas do Morrazo, o Cruzeiro de Hío.

07.- 2025-10-14 13140

Vejamos a localização do Cruzeiro, Igreja e Residência Paroquial no seu entorno.

09.- Captura de ecrã 2025-10-14 133234

Bem assim o pombal da Residência Paroquial (Casa Rectoral).

08.- Captura de ecrã 2025-10-14 133153

 

O CRUZEIRO DE HÍO

No adro da igreja paroquial de Hio encontra-se o complexo monumental composto pelo Cruzeiro.

10.- 2025.- Cruzeiro de Hío (8)

Estamos, sem dúvida, perante o monumento popular mais importante de toda a Galiza. Foi obra do mestre Inácio Cerviño, se bem que outros a atribuem ao mestre José Cerviño; todavia, a mais recente investigação, atribui a obra a Inácio.

Sabemos a data da sua construção, graças ao pequeno anjo no topo de uma coluna ao seu lado. O pergaminho que segura diz: "Esmola ao Santíssimo Cristo da Luz 1872". Esta foi a data em que o Cruzeiro foi inaugurado para celebrar a festa de Cristo.

11.- 2025.- Cruzeiro de Hío (26)

Um pormenor do pequeno anjo.

12.- MG_1411(C)_Xaime_Cortizo_0

O Cruzeiro ergue-se do solo com uma escadaria octogonal de três degraus,

13.- cruceiro

seguida de um altar sobre o qual assenta a estrutura principal da obra, composta por base, fuste e cruz.

14.- maxresdefault

Cada um destes é feito de uma única pedra.

A base é composta por quatro nichos, orientados para os pontos cardeais. O da face sul mostra Eva a ser tentada com a maçã pela serpente.

20251009_084744989_iOS

 Neste caso, pode ser interpretado como um princípio e um fim, pois se a cruz começa com o Pecado Original, termina, no topo, com a redenção desse pecado, através da morte do Filho de Deus na cruz.

O nicho virado a oeste é conjunto ao anterior e representa Adão no Paraíso.

16.- 2025.- Cruzeiro de Hío (29)

De seguida, vemos a cena em que Jesus, depois de morrer na cruz, vai ao Limbo buscar os Justos e conduzi-los ao Céu.

20251009_084849165_iOS

Neste ponto, devemos prestar atenção à forma cinzelada das portas do Limbo. Olhando em direção à igreja, encontramos o quarto nicho,

18.- 2025.- Cruzeiro de Hío (9)

que representa a Virgem do Carmo como a redentora das almas do Purgatório. Se olharmos com atenção, a figura a quem ela estende a mão está a usar um barrete sacerdotal.

A parte inferior do fuste ostenta uma inscrição com um nome, que bem poderia ser o do Arcebispo de Santiago, e por baixo dela estão algumas letras, não legíveis para nós, que dizem: "concedeu cem dias de indulgência".

19.-g_vigoenfotos_3058e

O Arcebispo da época concedia cem dias de suave indulgência a quem recitasse um credo em frente do cruzeiro.

Subindo a coluna, encontramos Adão e Eva no momento da sua expulsão do Paraíso.

20.- Cruceiro-do-Hio-1200x900

É aconselhável observar estas imagens de perfil, pois estão presas à coluna vertebral apenas pelos pés. Assim, percebemos a qualidade da escultura dos corpos de ambas as figuras.

Acima do grupo anterior, está a Virgem Imaculada a derrotar a serpente,

21.- 2025.- Cruzeiro de Hío (10)

que personifica o mal. Esta devoção é representada com os seus símbolos habituais, feitos neste caso de metal: uma lua crescente e uma coroa com doze estrelas.

No topo, vemos o Arcanjo Rafael a segurar uma criança pela mão,

22.- 2025.- Cruzeiro de Hío (20)

representando a inocência salva do mal.

Do outro lado, vemos o Arcanjo Miguel,

20251009_085419271_iOS

que, como é habitual, é simbolizado a lutar contra o Diabo.

Finalmente, abaixo do suporte que sustenta o conjunto final, encontram-se os quatro anjos que sustentam a cidade santa de Jerusalém.

24.- 2025.- Cruzeiro de Hío (15)

No topo da cruz, está representada a descida de Cristo da cruz.

25.- 2025.- Cruzeiro de Hío (25)

Esta é a parte mais importante do conjunto. De salientar como foi moldada aquela única rocha granítica trazida da região de Liméns. É importante parar para contemplar os detalhes das vestes e as proporções dos corpos, mas o aspeto mais importante é a expressão que o artista conseguiu dar às suas figuras.

Descrevendo a cena, vemos que Jesus está a ser descido da cruz por José de Arimateia e Nicodemos.

26.- 2025.- Cruzeiro de Hío (41)

Em baixo, São João segura-lhe os pés, enquanto Maria Madalena coloca as mãos sobre a cabeça e a Virgem Maria se ajoelha, olhando para as suas mãos, que presumimos que seguravam a coroa de espinhos.

27.- cruceiro-hio

A cena é completada por dois querubins que seguram os pregos e o INRI.

28.- Captura de ecrã 2025-10-14 135906

(Fonte: - Cruz do Hío, Patrimonio galego)

Apresenta-se mais um enquadramento final da cruz.

29.- 2025.- Cruzeiro de Hío (43)

 

A IGREJA DE HÍO

Encontrava-se fechada. Só podemos ver o seu exterior. De acordo com o autor que vimos citando, na igreja, em forma de cruz latina, existem duas partes distintas. A primeira, datada do século XII, é de estilo românico. Caracteriza-se pelas arquivoltas típicas da entrada, cujo tímpano apresenta um motivo cruciforme, claramente alusivo à forma da cruz onde faleceu Santo André, padroeiro da freguesia. Outra característica deste estilo é a decoração da cornija da igreja. Estas mísulas representam formas animais e vegetais e indicam a extensão da construção original; a cornija da extensão não possui estes elementos.

A segunda parte data de 1788 e estende-se desde o braço curto até à cabeceira. Podemos observar a diferença de estilo nas janelas: as da parte antiga são de vão, enquanto as restantes são grandes e retangulares.

Os contrafortes que se observam no exterior da igreja resultam da substituição do antigo telhado de madeira por um de pedra, o que obrigou ao reforço de toda a estrutura.

30.- 2025.- Cruzeiro de Hío (36)

Junto a um destes contrafortes, no lado norte, podemos ainda ver a antiga porta lateral do edifício românico, hoje murada e sobre a qual se conta uma belíssima lenda relacionada com o ciúme.

No seu interior, destacamos especialmente o seu altar-mor, construído integralmente em pedra policromada. Nele se encontram as figuras de Santo André, Santa Luzia, São José e São Roque.

No exterior. O exterior oferece uma ornamentação cuidada baseada em hastes planas e estilizadas, que se cruzam no topo e na extremidade, como as suas congéneres opostas, em espiral. As bases, bastante erodidas, são áticas, com um touro volumoso e garras nos cantos. O tímpano,

31.- 2025.- Cruzeiro de Hío (32)

decorado em relevo, assenta sobre duas ombreiras em forma de nave. A composição é centralizada por uma cruz em forma de X, uma clara alusão ao santo padroeiro do templo, ladeada por duas pequenas figuras humanas vestidas com túnicas curtas. Por cima da porta,

32.- 2025.- Cruzeiro de Hío (33)

encontra-se um nicho moderno que alberga uma imagem de Santo André, sobreposta a uma antiga janela inclinada. As fachadas laterais ostentam contrafortes, entre os quais se abrem as seteiras originais. Três conservam-se no lado norte, enquanto no lado sul, devido à colocação de uma porta com decoração barroca, apenas restam dois. Ambas as fachadas apresentam um interessante conjunto de mísulas com temas diversos e grande apelo artístico sob os seus beirais, que se encontram geralmente em bom estado de conservação.

Na zona este da igreja, podemos ver esta imagem esculpida.

33.- 025.- Cruzeiro de Hío (34)

Apreciemos o seu pormenor.

34.-

 

RESIDÊNCIA PAROQUIAL

Não se encontrou informação sobre a sua data de construção, mas o seu estilo sugere que se situa entre os séculos XVII e XVIII. É um exemplo claro das casas de campo onde viveram os nobres senhores, proprietários das terras em séculos passados. Na casa principal, destacamos a varanda em pedra numa das suas fachadas.

O acesso aos jardins é permitido. Ao entrar, notaremos que é presidido por uma figura com o mesmo rosto de São João encontrado no batistério da antiga Colegiada de Cangas.

35.- 2025.- Cruzeiro de Hío (6)

Isto porque foram interpretadas pelo mesmo artista, Ignacio Cerviño. Uma vez lá dentro, veremos um belo relógio de sol que estava originalmente colocado num dos lados da fachada da igreja. À esquerda, alguns restos de sarcófagos difíceis de datar. Um pouco mais adiante, encontramos uma magnífica fonte encomendada pelo Conde de Aldán, segundo a lenda latina nas suas paredes. Outros elementos interessantes incluem o celeiro e o pombal. Este último foi recentemente restaurado, pelo que recomendamos a sua visita através das videiras de Albariño localizadas no pomar.

 

COMENTÁRIO SOBRE O AUTOR DO CRUZEIRO, SEGUNDO FERNANDO GRAÑA MONROY

Ignacio Cerviño nasceu em Águas Santas, no município de Cotobade. Foi pedreiro desde muito jovem, como era comum na sua cidade natal, onde muitas pessoas se dedicavam tradicionalmente a este ofício. Durante a sua estadia nas nossas terras, viveu em Hío e Cangas. Durante este período, este pedreiro com alma de escultor deixou uma obra que todos podemos admirar hoje.

Entre as suas obras notáveis ​​estão: o Cruzeiro de Hío; o mausoléu localizado no átrio da Igreja de Aldán; o Panteão de Ranqueta, localizado no cemitério de Cangas; as estátuas encomendadas para a procissão do Santo Encontro pela Irmandade da Misericórdia (o Nazareno, São João, Maria Madalena, as Marias, etc.); a Descida de Cristo; a Mesa dos Apóstolos; e outras obras cuja autoria não se sabe ao certo.

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